domingo, 7 de setembro de 2008

TEMA PARA DEBATE

07 de setembro de 2008 | N° 15719

Escolas para a universidade ou para a vida?,
por Carlos Anderson Kulzer*
Das escolas que freqüentei durante minha infância e adolescência, percebo os conteúdos passados de forma tradicional e classificados conforme a disciplina a ser dada. Cada disciplina centrada em si, sem fazer co-relação entre duas ou mais matérias. Certamente decorei diversas informações, mas sei que não lembro de outras tantas também. Sabe-se hoje que a decoreba foi (ou ainda é?) prática usual em muitas organizações de ensino. Ainda hoje há escolas que possuem uma visão tradicional e que não oferecem suporte para os professores que reconhecem a escola como agente de transformação constante do contexto social, boicotando assim o que deveria ser o principal objetivo da escola: formar o cidadão livre, independente, ciente de suas obrigações e deveres.

O ensinar legítimo passa pela prática de inter-relações em sala de aula e, por que não, fora dela também, onde o professor auxilia na construção do saber co-relacionando temas e conteúdos, mostrando que tudo está interligado, despertando a análise e a reflexão sobre o tema proposto, tornando-se assim uma nova descoberta. Descobrir o novo e entendê-lo de fato é o que nós, pedagogos, desejamos a nossos alunos. Para tanto, é necessário construir currículos práticos e interligados, recheados de comparações e fatos do nosso dia-a-dia, propondo, assim, atividades interessantes e que possam ser realizadas com prazer.

O verdadeiro papel da escola não é preparar para a universidade, mas sim para a vida. O jovem tem que ir para a universidade? Sim. Mas se este for o desejo dele. Tem que haver os professores, os matemáticos, cientistas, médicos e engenheiros. Mas também os mecânicos, marceneiros, serralheiros, cozinheiros. Tem que haver de tudo e há lugar para todos. A nossa sociedade necessita de bons profissionais em todas as áreas. Onde estão os sapateiros, funileiros, preparadores e pintores? Estes eram profissionais que encontrávamos em qualquer esquina, quase sempre acompanhada de um senhor muito bem-educado. Hoje, já não encontramos facilmente alguém desempenhando essas atividades. Tudo ficou moderno demais. Os RHs certamente sabem do que estou falando. Procuramos pessoas que estejam dispostas a encontrar um trabalho, não um emprego. Que busquem ser desafiados, instigados a dar o algo a mais, que saibam também bater na porta antes de entrar, sorrir, ser gentil e estender a mão ao dar um bom-dia. Porque, antes de sermos profissionais, devemos ser gente.

Os currículos escolares deveriam tentar introduzir também os pensamentos e sentimentos do educador, o aprender a fazer, a ser e a conviver. Isto implica falar de valores, de estratégias de aprendizagem, de trabalho em equipe, formar pessoas não apenas para a próxima série ou para o mercado de trabalho, mas também para a construção de uma sociedade mais justa, digna e igualitária.

*Pedagogo empresarial